É daquelas coisas de que nos orgulhamos sem razão legítima para nos orgulharmos. Preocupação é sinónimo de responsabilidade, de importância, de estatuto, sem na verdade ser nada disso.
Pergunta:
Está preocupado/a com o facto do que poderia acontecer
se não estivesse preocupado/a?
É comum. A preocupação hoje é colocada ao nível do estatuto, de importância social. Por mim, está ligada à neurose e a uma dificuldade social.
Porém, o que temos é que, não estar preocupado é um atributo de indivíduos indigentes, sem propósito, sem rumo, sem vida. Estar preocupado é realmente um estatuto de quem não tem tempo para dar porque tem muito por que preocupar-se.
- «Eu não tenho tempo para isso, tenho muitas preocupações», minimiza o interlocutor e a situação, colocando o foco em preocupações e não em projectos ou intenções.
- «Não dou importância a isso, tenho mais em que me preocupar», minimiza o assunto, colocando o foco em preocupações e não em preferências ou interesses.
- «Se tivesses as minhas preocupações, não falavas assim», minimiza o interlocutor, colocando o foco na preocupação e não em soluções ou ideias.
Por qualquer razão, estar preocupado tornou-se uma questão de importância social, de indivíduos superocupados, que não têm tempo para coisas insignificantes, mas que no fundo se preocupam com «insignificâncias» pessoais.
Estar preocupado é ter algo a defender, é sensação de escassez, foco no que falta, do que se pode perder, foco no que pode não acontecer, foco no que pode não resultar.
Em conclusão, em mais de 90% das vezes, temos a tendência de estar preocupados, temendo o que poderia acontecer se não estivéssemos preocupados. E o que poderia acontecer são possibilidades, soluções, opções, ideias, projectos
Dentro do mesmo registo encontram-se outros estados:
- Ficar nervoso por não estar nervoso
- Ficar irritado por não estar irritado
- Ficar angustiado por não estar angustiado
Complete a lista com aquilo que lhe ocorrer.