De cada vez que João é confrontado com uma emoção, trata de se distrair para evitar focar-se nela. Falar de sentimentos é algo a evitar porque se tornou aterrador. Passa o tempo a fugir de amizades e de encontros amorosos, ficando-se cada vez mais pelos encontros fortuitos com os conhecidos do costume, em cafés, bares e esplanadas. Uma bebida e conversas superficiais são uma boa distracção para não pensar no que realmente sente. O psicólogo ouve-o uma vez por semana e assim se ilude que tudo se há-de resolver.
Sentimentos enterrados vivos nunca morrem
Cláudia vive permanentemente a «desligar» os sentimentos. É algo que a transtorna e a deixa sem jeito, por isso preenche o tempo com tarefas e procedimentos e dedica cada vez mais tempo ao trabalho. Recorre a antidepressivos para tentar resolver algo que só pode ser resolvido com outro tipo de abordagem. Chega mesmo a assumir que não quer sentir para não sofrer. E então passa o tempo a sofrer por não se permitir sentir.
Maria quer uma relação duradoura, mas tem medo de manifestar afectos e, de cada vez que os recebe, recua perante um incómodo do qual não quer pensar nem falar. Fica tão incomodada quando um homem se aproxima que logo foge da situação ou corta o elan. Prefere refugiar-se na web, em chats de encontros e no facebook. Pelo menos aí pode representar um papel e está protegida de si própria - julga ela.
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O consumo de ansiolíticos e antidepressivos dá-nos uma pista sobre a gravidade da fobia dos afectos, que leva a que se desenvolvam neuroses, a dificuldade em lidar com emoções, em traduzi-las, compreendê-las.
A fobia dos afectos faz perder relações amorosas e de amizade, relações significantes, apenas porque não se consegue verbalizar o que se sente. Resta por isso apenas a possibilidade de desenvolver interacções superficiais que não são satisfatórias.
Quando o racional não acompanha o sentimento surge uma espécie de bloqueio comunicacional.
Descrevo isto como um «choro interno que não se manifesta fora, nem na face, nem em palavras, nem no corpo. É uma espécie de vazio interior mas pronto a explodir». Quando o racional choca com o sentimento, quando este não é traduzido pela mente, algo está mal no mundo interno.
Como curar a fobia dos afectos...
O maior problema que podemos ter somos nós. E a fobia dos afectos talvez seja o mal do século, fazendo-nos sentir deslocados, desadequados, desconfortáveis e confusos.
Não se resolve esta fobia com comida, com o consumo de doces, com mais trabalho, com cigarros, com mais café e com distracções tecnológicas. As emoções, os sentimentos e os afectos são informativos e são autoritários.
A cura é possível e pode levar o seu tempo. Passa não só por permitir-se a sentir como também a desfrutar de momentos em que emoções e afectos estiverem presentes. Esteja presente e desfrute, notando o que sente no corpo, sem colocar o passado e o futuro na equação. Não interessa o que aconteceu antes nem tão-pouco o que poderá acontecer. Interessa mesmo, mesmo, é o que acontece no momento.
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Se os ansiolíticos e os antidepressivos são seus companheiros diários, tenha a certeza que está relacionado com a fobia dos afectos. Para todos os efeitos, você não está a saber lidar com situações que envolvem emoções, sentimentos e afectos ou não se está a permitir senti-los.